quinta-feira, 13 de março de 2014

Mata Roma, poeta e professor.


Muitos dos que cruzam a BR222, passando pelo município de Mata Roma, sequer tem noção de onde surgiu o nome daquela cidade, e confesso que nem eu tinha noção e também nunca tive curiosidade de procurar saber de onde surgiu esse nome, e qual era a relação da Mata com Roma.

Na verdade uma coisa nada tem a ver com a outra, Mata Roma vem de José Mata Roma, e isso eu descobri lendo um livro dia desses ai, me chamou atenção, pois Mata Roma, como era mais conhecido, foi conhecidíssimo poeta, professor e diretor do Liceu Maranhense, professor da Faculdade de Direito do Maranhão, e eu sequer tinha a menor noção disso.

Os amigos moradores daquela Região certamente estudaram este poeta desde suas infâncias, e não me perdoarão por tamanha ignorância, talvez até vão sorrir de mim. Meu Pai, que é de Araioses, cidade próxima a Mata Roma, também sabia quem foi este poeta, perguntei também a ele. Não sei por que ele nunca me contou quem foi, assim eu não estaria me sentindo envergonhado agora aqui perante vocês.

Reconheço que é muita ignorância da minha parte não saber quem foi Mata Roma. Deveria eu saber, vergonhoso, confesso! Apenas após a leitura do livro é que me interessei em saber quem foi este ilustre Maranhense, nascido em Chapadinha. E o que me deixou mais feliz na minha breve pesquisa foi descobrir que ele era Bacharel em Direito pela mesma faculdade em que eu também me formei, a Antiga Faculdade de Direito do Maranhão, hoje a Universidade Federal do Maranhão, onde ali ele também foi professor da disciplina de Direito Civil.

Mata Roma era professor, casado, mas apaixonou-se por uma aluna. Mas ele era também fiel à sua esposa, e em razão disso sofria por este amor impossível, o que acabou por dar-lhe inspiração para compor dos mais belos sonetos da literatura Maranhense, que pelo menos este aqui eu tomei conhecimento antes da minha pesquisa, por meio do livro que eu estava lendo, lembram?

Veja o lindo Soneto abaixo:

Tântalo

Conta uma lenda antiga, cuja fama

Pelos tempos modernos inda voa,

Que lá no inferno, condenado à toa,

De fome e sede Tântalo rebrama.

Junto, corre uma fonte clara e boa.

Perto, um galho de frutas se recama.

Mas, se ele quer comer, se afasta a rama,

E, se tenta beber, a água se escoa.

Tem minha vida e a lenda o mesmo traço,

Flagela-me também um vão desejo,

Fome e sede incontidas também passo.

Punido como Tântalo me vejo:

Tão perto desse corpo, e não te abraço!

Tão junto dessa boca, e não te beijo!”

 
Veja abaixo a matéria completa do Guesa Errante sobre este ilustríssimo Maranhense, e nunca mais o esqueça.

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Mata Roma
MATA ROMA: Um Professor-Poeta

Tão junto desse corpo e não te abraço,
Tão perto dessa boca e não te beijo
(Mata Roma)

* Mata Roma

Em 23 de janeiro de 1896, a cidade de Chapadinha viu nascer um dos seus mais ilustres filhos: José Mata de Oliveira Roma, conhecido como Professor Mata Roma, bacharel em Direito pela antiga Faculdade de Direito do Maranhão, da qual mais tarde, foi professor de Direito Civil. Todo o entendimento humano foi suficiente para conhecer e entender o mínimo desse seu ilimitado mundo e seu significado, de fantasia e transfiguração do espírito e da realidade, de sua importância e de seu talento excepcional.

Nesse ano predominava o Simbolismo, uma escola literária de poetas. Vários de seus integrantes morreram pobres, não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecidos até hoje.

O início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da escola anterior, o Realismo, pois no final do século XIX e início do século XX têm-se três tendências que caminham paralelas: Realismo, Simbolismo e pré-Modernismo, com o aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira. Foi a Semana de Arte Moderna que pôs fim a todas as estéticas anteriores e traçou, de forma definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil.

Em toda nossa cultura contemporânea, são poucos os mananciais ricos e puros de idéias em favor do homem e de sua elevação intelectual e moral de toda a sua obra. Mesmo evitando todo e qualquer exagero, não posso deixar de reconhecer que Mata Roma é uma das mais legítimas glórias da nossa literatura; e o é, tanto pelo conteúdo humano de sua obra, quanto pelos relevos artísticos da mesma.

OS ESTUDOS

O professor Mata Roma começou seus estudos em Chapadinha. Em seguida, mudou-se para o município de Brejo, onde terminou o curso primário. Em Teresina-PI, concluiu o primeiro e segundo graus. Após superar diversas dificuldades em sua vida, e trabalhar como vaqueiro em sua cidade natal e, mais tarde, comerciante de sucesso, retornou a São Luís, onde prestou vestibular, ingressando na Faculdade de Direito, na Rua do Sol, formando-se cinco anos depois – a 8 de dezembro de 1925, em Bacharel em Direito. Os dois irmãos se notabilizaram como exímios oradores. Mata Roma, porém, mostrou cedo sua veia literária, enquanto que Oliveira Roma pendia para a cultura jurídica.

Era jornalista, poeta, político e catedrático de Português no Liceu Maranhense, que dirigiu por vários anos, e onde ingressou por concurso, com a tese A Questão do Quê. Lecionou Literatura em diversos estabelecimentos na capital. Ex-diretor do Colégio Estadual e do Colégio “Cisne Branco”, do qual foi proprietário. Colaborou em diversos jornais de São Luís. Lecionou de graça nos colégios “Centro Caixeral”, “São Luís” e “Santa Tereza”. Era amado pelos estudantes.

Entre tantos trabalhos literários, escreveu Cartas Chilenas: Visão Crítica; Brasil, Poemas, Histórias Compiladas, Velhos Ritmos, dezenas de artigos e produções em prosa e versos publicados nos jornais da época, mostrando sua versatilidade, grandeza e genialidade.

Eleito vereador, Mata Roma foi escolhido por seus pares para presidência da Câmara Municipal de São Luís. Foi um dos fundadores e professor da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Luís, lecionando nessa instituição Literatura Portuguesa. Chefiou o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários-IAPC, Serviço de Aprendizagem Comercial e o Serviço Social do Comércio. Integrou o grupo de fundadores da Academia de Comércio do Maranhão. Pertenceu à Diretoria do Departamento de Literatura da Sociedade de Cultura Artística; titular da Cadeira 17 da Academia Maranhense de Letras, cujo patrono foi Sotero dos Reis. Faleceu em 20 de setembro de 1959, em São Luís, onde passou a maior parte de sua vida. Seu enterro foi acompanhado pela mocidade maranhense como era seu desejo.

Mata Roma foi vítima de câncer nos pulmões, provavelmente provocado pelo consumo de cigarros

Quis o destino que, 47 anos depois de sua morte, já formado em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão, eu prestasse uma significativa homenagem a esse ícone da literatura maranhense. Jamais poderia imaginar que também seria jornalista, assim como Mata Roma, e fizesse o resgate de um dos mais expoentes vultos de nossas letras.

VELHOS RITMOS

No prefácio da 1ª. Edição de Velhos Ritmos/Versos de Minhas Filhas, lançada na Academia Maranhense de Letras, em 20 de setembro de 1996, a poetisa e escritora Dagmar Desterro destaca que “Mata Roma é uma das recordações mais fortes e mais queridas entre todos os amigos que a vida lhe propiciou. Foi seu professor na Escola Normal e voltou a sê-lo no Curso de Direito. Foi um mestre de gerações, reconhecido e mesmo reverenciado pela solidez de seus conhecimentos. Foi um jovem de espírito que se comprazia em estar com os jovens, muitos deles seus alunos”.

Vale a pena transcrever o artigo do poeta José Chagas, publicado no jornal “O Estado do Maranhão”, no dia 14 de setembro de 1996 e que também está nas páginas 81 e 82 do livro Velhos Ritmos. Diz o poeta:

Ao lembrar aqui a figura do saudoso professor Mata Roma, o primeiro intelectual com quem tive contato, ao chegar a São Luís, em janeiro de 48, faço a memória regredir mais de quatro décadas e peço permissão aos leitores para reproduzir um trecho do meu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras. É o que se segue:

“Numa certa noite, que já vai longe ao tempo, eu chegava a São Luís pela estrada mais de ferro que havia no mundo e que era então São Luís-Teresina. Desci na estação com a camisa toda crivada de fagulhas. Lembremos que naquele tempo o trem tinha o apelido de “Maria Fumaça”, mas a verdade é que essa maria mandava brasa mais do que fumaça, fazendo da viagem um incêndio só, queimando lenha, queimando os passageiros, queimando a paisagem em torno, queimando bronze, queimando paciência, queimando não raro os próprios vagões.

Na estação tomei um táxi e pedi ao motorista que me levasse a uma pensão qualquer no centro da cidade que eu não conhecia. E é engraçada a vida. Quando não se tem destino, é exatamente ao próprio destino que se fica entregue. A pensão a que o motorista me levou era de um dos membros da família Ericeira, família que desde então me acolheu, com profundos laços de amizade, e que, por assim, me adotou no Maranhão.

Ali eu tinha chegado com apenas duas coisas que qualquer pessoa poderia desconfiar: a cara e a coragem. A rigor tudo quanto eu trazia era um caderno de versos e uma promessa de emprego feita pelo grande amigo Antonio Justa, responsável direto pela minha vinda a São Luís. Descendo das palavras ao plano das circunstâncias, eu vinha, como se diz em linguagem de pau-de-arara, puxando uma cachorrinha. E o mais grave é que, numa terra de poetas, eu ousava puxar nada mais nada menos que a cachorra da poesia, que, aliás, sempre se manteve fiel a mim, embora eu nada tenha conseguido fazer até por ela.

Na pensão encontrei hospedado um homem que de logo me chamou a atenção. Mostrava-se alegre, bonachão, extrovertido, mas nem por isso deixava de parecer um homem sofrido, surrado pela vida. Aos poucos tornou-se meu amigo. Fazia versos e tinha o seu quarto praticamente cheio de compêndios gramaticais. Eu ficava espantado de como podia ele conciliar o poeta e o gramático, atendendo as exigências de ambos. Lembro um soneto de sua autoria, que ele gostava muito de recitar, principalmente quando havia moças bonitas hospedadas, e que terminava assim: “Tão perto deste corpo e não te abraço,/Tão perto desta boca e não te beijo”.

Acho que o tormento de Tântalo devia configurar-lhe um pouco de sentimentos existenciais. Um dia descobriu meu caderno de versos, leu alguma coisa e disse: – “Meu besta, você é poeta”. E muito tempo passou com os meus poemas, a mostrá-los aos amigos, chegando mesmo a lê-los numa sessão da Academia. Era ele o professor Mata Roma, o primeiro a estimular-me na nova terra e a ligar-me a outros amigos, entre estes o poeta Manoel Sobrinho, de quem guardo o maior exemplo de humildade e o incentivo de que agora me recordo, adivinhando-lhe a alegria, se hoje vivo fosse, pois já naquele tempo sonhava ele comigo nesta Casa... Mas aparecemos aqui com o discurso.

O que afinal eu quero mesmo lembrar é a particularidade de chegar com o meu português de pau-de-arara numa terra onde melhor se falava a língua pátria e encontrar de imediato um renomado mestre nessa matéria. Naquele tempo a gramática ainda era levada a sério no Maranhão, amando-se, com o maior zelo, a língua, muito embora esse amor não fosse propriamente à língua portuguesa no Brasil. A rigor, amava-se, no Brasil, a língua de Portugal. Ninguém queria atentar para essa diferença. E não por acaso o professor Mata Roma ocupava, na Academia, uma cadeira, cujo patrono era Sotero dos Reis, para quem Frei Luís de Sousa, João de Barros e Padre Vieira eram, depois de Camões, os mestres que deviam ser consultados pela nossa mocidade. Fora dessa gente, nada feito, como se a língua parasse neles.

É natural que, dentro desse rigor, o professor Mata Roma haja escrito os seus versos, e eu me recordo de que ele tinha um volume de poemas com o título de Velhos Ritmos, nunca publicado, e cujos originais não tive a oportunidade de ter em mãos para ler. De modo que é grande a minha curiosidade ao saber que esse livro será lançado no dia 20 deste, na Academia Maranhense de Letras, para alegria dos admiradores do professor-poeta. Pena que ele não tenha sido lançado, na década de 40 ou na de 50, quando o autor ainda estava vivo e quando teria assim maior repercussão. Mas afinal nunca é tarde para que se possa homenagear e honrar a memória de um mestre que conheci como uma das figuras mais queridas e mais respeitadas pela mocidade estudiosa de seu tempo. Era um verdadeiro ídolo.[...]

Há muitos anos o jurista Wady Sauaia publicou no Jornal Pequeno o artigo “O Castigo de Deixar Para Depois”. Nele, há uma passagem interessante sobre a construção Depois de e Depois que. Ei-lo: “Tenho pago muito caro por isso, embora DEPOIS seja um advérbio de minha simpatia, desde 1937, quando nas aulas de português, o professor Mata Roma nos ensinava as construções Depois de e Depois que, e insistia naquele seu jeito de sertanejo de Chapadinha das Mulatas: Depois de é locução prepositiva, enquanto Depois que é locução conjuntiva, MEU BESTA”.

Na segunda grande guerra mundial, eram muitos os comentaristas, nos quatro quadrantes do País. Aqui em São Luís, brilhavam, no “Diário do Norte”, Antonio Lopes da Cunha; em “O Imparcial”, Astolfo Serra e Serra do Nascimento. Quando caiu Paris, Mata Roma escreveu, como bom conhecedor da Geografia Européia, um artigo, publicado em “O Globo”, com o título insinuante de “DEPOIS DA QUEDA DE PARIS”. Li o artigo, antes e depois de ser publicado. Não sei por que Mata Roma costumava distinguir-me com a honra de mostrar-me, antes de publicar, o que produzia, em prosa e em verso: “Lê isto, Meu Besta”. Eu lia, e dava-lhe minha opinião sincera.”

MATA ROMA (A cidade)

Segundo informações colhidas junto ao IBGE, o povoado que deu origem à atual sede do município de Mata Roma teria sido fundado por Maria Rita Garreto, que para lá se transferiu, data não sabida, depois que seu marido, Rolindo Garreto, foi assassinado. O lugar em que se fixou e ao qual se deu o nome de São Francisco, às margens do Riacho Estrela, custou muito a crescer, tanto que, em 1942, contava com apenas 8 casas de palha e 1 coberta de telhas, esta pertencente a Manoel Garreto de Sousa.

A cidade hoje tem uma população estimada de 11 mil habitantes, uma área aproximada de 600 km2. Em 1946, com a chegada de famílias protestantes vindas de várias localidades, desenvolveu-se mais rapidamente, recebendo o topônimo de Redenção. Pela Lei nº 2182, de 30 de dezembro de 1961, foi elevada à categoria de cidade e sede do município que recebeu o nome de Mata Roma, em homenagem ao poeta e um dos maiores professores de gramática do Maranhão.

“MEU BESTA”

Meu Besta” era um tratamento especial com que Mata Roma chamava seus amigos queridos. Assim o fez quando José de Ribamar Araújo Costa (Zé Sarney) entrou para a Academia Maranhense de Letras. Foi Mata Roma quem o saudou com a seguinte frase: “Entra, meu besta, a Casa é sua”.

Conta Evandro Sarney que, “em 1945 – foi um ano de profundas transformações – a segunda guerra mundial havia terminada, o interventor Paulo Ramos foi substituído pelo Dr. Clodomir Cardoso. A mudança atingiu o Liceu Maranhense. O professor Mata Roma foi nomeado Diretor do Educandário e foi mantido, mais adiante, pelos interventores Elezar Campos e Saturnino Belo. O corpo docente do Liceu rejubilou-se às escâncaras, com a designação do mestre para dirigir o Liceu. Os professores eram: Nascimento de Morais, Vicente Maia, José Furtado, Alves Cardoso, Braga, Cadmo Silva, Lilah Lisboa de Araújo e Maria de Jesus Carvalho. Mata Roma era um professor idolatrado pelos alunos. Começava a fase de ouro, inesquecível do Liceu Maranhense”.

Mas essa fase foi abalada, segundo relata Evandro Sarney. Diz ele que “na dança dos fatos, que a memória atualiza, com tristeza recordo que esse mar de poesia, de letras e de arte, foi abalado em 1947 por uma violenta crise interna, motivada pela inesperada nomeação do professor Araújo para Diretor do Liceu Maranhense. Nenhum aluno estava indo às aulas e todos exigiam a volta do professor Mata Roma. O prefeito Costa Rodrigues mandou o secretário Merval convocar a Congregação, a fim de que esta indicasse uma listra tríplice.

A Congregação decidiu deixar a critério do governador a escolha do diretor. Para alegria dos professores e alunos, o mestre e poeta Mata Roma foi reconduzido à direção do Liceu. Pronto. Paz, estudo e poesia nas salas e corredores do Colégio.

TÂNTALO

Em 1946, Mata Roma vivia uma grande paixão. Estava apaixonado por uma aluna que lhe inspirava antológicos sonetos. Já pensou? Em 1946 as jovens não mostravam nem os tornozelos. Imagine, então, um professor famoso, amado pelos seus alunos e fiel à esposa Elza, a quem amava muito. Como então viver essa paixão?

Sempre aos sábados e domingos, meu pai, Dr. Mata Roma, reunia os filhos e contava a paixão de Mata Roma, relacionando à mitologia greco-romana. Essa paixão ardente, perturbadora, que durante muitos anos povoou a mente do mestre, é e continua ainda sendo comentada pela minha família. E eu sempre conto esse suplício aos amigos que me costumam visitar nos finais de semana.

É que havia um rei na Líbia – antiga Mesopotâmia – chamado Tântalo casado com Ceres, deusa da Agricultura. E desta união nasceram 14 filhos. Um dia Tântalo ofereceu um jantar para os deuses Apolo e Diana. Mas Tântalo não tinha nada a oferecer nesse manjar. O que fazer? Como agradar os deuses? Contra a vontade de Ceres, Tântalo matou uma de suas filhas: Penélope. E ofereceu um banquete a Apolo e Diana.

Mas Tântalo foi tolo (dedução minha). Era um rei, mas não era um deus. Portanto, não tinha poderes. Como ele poderia enganar os deuses? Na hora em que foi servido o jantar, imediatamente Apolo e Diana perceberam que aquela carne era humana. E, diante dessa estupidez cometida por Tântalo, os deuses o condenaram a um atroz suplício: toda vez que ele tentasse comer alguma coisa, uma fruta, por exemplo, esta se afastaria dele; se tentasse beber água, esta também se afastaria. Como castigo, os deuses Apolo e Diana vaticinaram que seus 13 filhos restantes quanto completassem 14 anos, seriam flechados e se transformariam em pedras. E isso, na mitologia, aconteceu.

Voltando à realidade, Mata Roma amava com a mesma intensidade sua esposa Elza e essa jovem, sua aluna. Mas toda as vezes que se aproximava dela, lembrava que era casado, muito bem casado, e respeitava sua mulher. E, assim, nada houve entre eles. Essa musa, cujo nome não é permitido dizer, se viva ainda estiver, tem seus 78 anos. Em 1946, essas paixões eram consideradas escandalosas pela sociedade. Os costumes da época não permitiam, jamais, que esses duplos sentimentos aflorassem e viessem à tona. E mesmo que aflorassem e viessem à tona seriam sufocados, em nome da moral e da decência, como aconteceu com o professor Mata Roma.

Diante desse amor impossível (pelo menos à época), dessa paixão arrebatadora e avassaladora, inebriado e sofrendo com a ironia do destino, Mata Roma foi buscar na mitologia greco-romana refúgio para as dores do seu coração. E aí, compôs Tântalo, um dos mais belos sonetos da Literatura Maranhense:

*Mata Roma, jornalista, sobrinho do poeta e professor Mata Roma

Tântalo

Conta uma lenda antiga, cuja fama

Pelos tempos modernos inda voa,

Que lá no inferno, condenado à toa,

De fome e sede Tântalo rebrama.

Junto, corre uma fonte clara e boa.

Perto, um galho de frutas se recama.

Mas, se ele quer comer, se afasta a rama,

E, se tenta beber, a água se escoa.

Tem minha vida e a lenda o mesmo traço,

Flagela-me também um vão desejo,

Fome e sede incontidas também passo.

Punido como Tântalo me vejo:

Tão perto desse corpo, e não te abraço!

Tão junto dessa boca, e não te beijo!”

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