domingo, 24 de novembro de 2013

OZIMO DE CARVALHO, UM VIANENSE


Viana deve a Ozimo de Carvalho mais que a colocação de um busto em praça pública e o batismo de logradouros com o seu nome. Farmacêutico devidamente formado, foi na prática o médico de toda uma vasta região, numa época em que médico era palavra quase desconhecida. Com a sua apurada técnica de manipulação de remédios, a partir do aproveitamento de ervas, folhas e raízes de plantas medicinais, curou enfermidades e salvou a vida de meio mundo.

Como esquecer o amargo Digestivo, de difícil ingestão, mas obrigatório para os males do estômago e do fígado? Ou ainda o intragável Necatol, porém indispensável para vermes e demais parasitas? De tão onipresente, Ozimo era quase uma figura divina. Suas fórmulas tinham uma credibilidade que extrapolavam o campo do conhecimento e alcançam o universo místico. Mesmo quando havia médicos na cidade, coisa absolutamente rara, as receitas que prescreviam tinham que passar pelo crivo do farmacêutico, sem o qual o paciente não as aceitava.

Ai daquele que Ozimo despachasse! Equivalia a um atestado de óbito. Eu fui um desses desafortunados, porém sortudo, por desafiar o seu diagnóstico. Castigado por impaludismo, meu fígado vivia aos pandarecos. Minha mãe já havia visitado o laboratório do farmacêutico um sem-número de vezes e comprado dezenas de remédios, que eu tomava como se fosse placebo. Nada fazia efeito. Até que Ozimo, já farto com aquele ritual, resolveu dar um basta. Fitou minha mãe com ar grave e declarou. “Não tenho mais o que receitar para o seu filho. Procure um médico em São Luís. Aqui ele não fica bom”.

Minha mãe perdeu o chão. Em prantos reuniu a família e comunicou a sua decisão. “Vou lutar pela vida do meu filho até o fim. Levo-o para São Luís. Farei o que puder para salvá-lo”. E assim foi. Escapei da morte, mas não da presença do farmacêutico. Eu tinha pavor de injeção. Um dia, castigado por uma ferida no calcanhar, que não sarava de jeito nenhum, meu pai me levou até a sua Fharmácia Brasil. Antes teve o cuidado de me prometer que eu não tomaria injeção de jeito nenhum. “Meu filho, fica tranquilo, seu Ozimo vai só passar uma pomada. Não vai ter injeção. Eu garanto”.

Entre desconfiado e nervoso, me vi diante daquele velhinho meio corcunda, levemente inclinado para frente, camisa de mangas compridas abotoadas nos punhos, cabelos impecavelmente penteados e divididos ao meio. Ozimo falava manso e pausadamente como se ditasse uma ordem. As pálpebras, em face do peso dos anos, caiam-lhe sobre os olhos, fazendo com que ele fitasse o interlocutor comprimindo os olhos para enxerga-lo.

Ele ouviu pacientemente o relato do meu pai e, por fim, fez a pergunta que eu temia. “Ele já tomou injeção?”. Diante da negativa do meu pai, calou-se e deu meia volta na direção do laboratório, que ficava no andar superior do sobrado Canto Grande, suntuoso casarão, em cujos salões Duque de Caxias fora homenageado no século anterior, e que servia agora de estabelecimento comercial e de residência do farmacêutico.

Vendo a minha aflição, e tentando minimizar a situação, meu pai falou-me ao ouvido: “Meu filho, é só uma injeçãozinha, não vai doer. Prometo!”. Eu não disse uma palavra. Entendi que se quisesse salvar a pele, eu tinha que agir rápido. Então retirei as sandálias dos pés e, num instante de relaxamento da vigilância do meu pai, sai em disparada, no rumo da Gurguéia, um imenso brejo situado na saída da cidade, formado de pés de algodão, salsas e orelhas de veado. Dois moleques foram escalados para me agarrar, mas eu sumi rápido entre os arbustos, não dando qualquer chance de resgate.

O pai só foi me encontrar horas depois, quando já me encontrava em casa, refeito do susto. Então me contou que, ao saber do espetáculo patrocinado por mim, seu Ozimo sorriu baixinho, e comentou, a voz quase sumindo. “Mas quem disse que eu ia aplicar injeção?” Depois entregou uma latinha de pomada de uso tópico, cujo nome não me recordo, para que eu aplicasse na lesão três vezes ao dia, após a assepsia do local. Como se diz no interior, foi tiro e queda.

Sobre Ozimo de Carvalho corriam muitas estórias, algumas engraçadas. Como a que envolve os comprimidos Melhoral, um dos mais antigos medicamentos, ainda fabricados nos dias atuais. Seu lançamento no fim dos anos 40 foi acompanhado de ampla campanha publicitária, cujo jingle dizia o seguinte: “Melhoral, melhoral, é melhor e não faz mal”. A propaganda, veiculada maciçamente no rádio, caiu no gosto popular. Quase todo mundo a conhecia. Um sujeito da zona rural chegou na Fharmácia Brasil, para comprar o remédio, mas não se lembrava do nome. Então assoviou a música da propaganda do remédio no ouvido do Seu Ozimo, que, imediatamente, identificou o produto. “Já sei. O senhor quer é Melhoral!”.

Durante a sua existência, Ozimo de Carvalho esteve por trás das iniciativas mais brilhantes para a cidade de Viana. Foi vereador por diversas legislaturas, tornou-se prefeito por duas vezes, criou as condições para a implantação da primeira biblioteca pública do município, articulou a criação da associação Comercial, Agrícola e Industrial de Viana. Também fundou o semanário A Época que, por dois anos, manteve informada a sociedade vianense sobre os acontecimentos políticos e econômicos do Maranhão e do País. No bicentenário de transformação da aldeia de Maracu em Vila de Viana, presenteou a cidade com o livro “Retrato de um Município”, uma das obras mais importantes sobre Viana. Personagens como Ozimo de Carvalho, pela sua dimensão social e humana, merecem mais que a simples inscrição do nome em logradouros públicos. Devem ser estudados na grade curricular de educação básica, discutidos em fóruns de estudos para que as novas gerações compreendam o seu legado à história e ao desenvolvimento da terra que lhes serviu de berço. Ozimo não foi apenas farmacêutico, político e visionário, porém o arquiteto de uma época que marcou a imagem da cidade como berço de inteligência e conhecimento.

Por Nonato Reis, Jornalista.
Em Jornal Pequeno, 24.11.2013, pág. 06.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Desembargador debochado!!!

KKKKKK... Em decisão, desembargador afirma que caiu da cadeira "de tanto rir" ao ler contestação
 
Nos processos envolvendo empresas de telefonia, o consumidor reclama de algo, as empresas não comprovam que não fizeram o que foi reclamado e não explicam nada. A constatação, da ironia presente nas relações entre tais prestadoras e seus usuários, é do desembargador Ruy Coppola, da 3ª câmara Extraordinária de Direito Privado do TJ/SP. Em bem-humorada decisão, o magistrado relata ter "caído da cadeira, de tanto rir" ao ler peça de defesa da extinta Telesp, incorporada pela Telefonica.

Um consumidor pretendia a declaração de nulidade de débitos constantes em sua fatura de pagamento e a restituição, em dobro, dos valores indevidamente cobrados. A empresa se limitou a alegar que os serviços foram disponibilizados ao autor, o que gerou a emissão dos valores, e que, ainda que se respeite o direito do usuário de contestar os valores cobrados, "as faturas emitidas são corretas e verdadeiras".

Ao ler a contestação da ré, o magistrado afirmou que foi possível constatar que, em momento algum, a empresa atacou as acusações do consumidor, limitando-se a declarar "sobre a legalidade das faturas que emite" e que foi efetuada "vistoria em seus equipamentos e no do assinante, não detectando qualquer irregularidade".

Segundo Copolla, "em momento de evidente descontração e bom humor do signatário da peça de defesa", a empresa alega que os registros e processos adotados são fiscalizados pela Anatel e pela ABNT, que atestou que a aferição do consumo dos assinantes está em conformidade com a regulamentação aplicável.

A apelação, classificada pelo magistrado como "um CONTROL+C e um CONTROL+V da contestação", não apenas o fez analisar o caso, mas, conforme relata na decisão, o fez cair da cadeira, de tanto rir. Prudente, o magistrado avisa: "Vou parar de ler a contestação senão vou cair de novo". "Qualquer usuário de rede social, se escrevesse isso, logo em seguida viria um "kkkkkkkkk", comparou o espirituoso desembargador.

Ao sinalizar o fim da brincadeira, dizendo que passará então a "falar sério", Coppola negou provimento ao recurso da Telesp e concluiu estar perfeita a sentença que determinou a restituição do valor e anotou que a ré "tinha a obrigação de comprovar o que não comprovou". "Era ônus dela, mas não demonstrou que os valores cobrados estavam corretos", declarou.

Processo: 9164828-45.2009.8.26.0000

Veja a íntegra da decisão.

Fonte: Portal Migalhas

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

BOMBA!!! EXUMAÇÃO DE CADÁVER EM VIANA

A área criminal é de longe a mais apaixonante que a Advocacia pode proporcionar ao profissional, e os motivos são inúmeros. Não é a área que eu tenho maior atuação em Viana, até mesmo em razão de algumas parcerias que mantenho na cidade, o que já é público o notório, mas quando me surge a oportunidade, percebo que é sempre a mais empolgante e instigadora.

Mas, há alguns meses venho atuando em um processo crime onde meu constituinte é acusado de, em companhia de um outro cidadão, ter cometido homicídio.

A denúncia é de que cada um dos acusados portava um revólver, sendo meu constituinte um 32 e o outro cidadão, um 38. Na instrução do processo, meu cliente negou que tenha disparado contra a vítima, e o outro cidadão, afirmou ter disparado contra a vítima, mas em legítima defesa, salvo engano.

Pensem comigo! Da forma como foi colocado, imagina-se então que a vítima veio a falecer por ter sido alvejado por disparos de um revólver 38 somente. O MP entende que não, este órgão sustenta que a vítima veio a falecer em razão de disparos de 38 e 32.

Ocorre que o Exame Cadavérico foi elaborado de uma forma ineficaz para o processo, vez que nada esclarece. Este exame não diz sequer se no corpo da vítima foram encontrados projéteis (as balas) de arma de fogo, nem tampouco, que tipos de projéteis seriam esses, se de revólver 38 ou de 32.

Portanto, diante desta dúvida que pode solucionar o caso, e que é fundamental para a liberdade ou a prisão de um cidadão de bem, este Advogado sugeriu e o Juíz do caso acatou o pedido de Exumação do Cadáver da vítima, para que se retire dali os projéteis, e se diga se estes são de revólver 32 ou 38.

Andei conversando com alguns amigos da cidade, estes me disseram que há muito tempo não há uma Exumação de Cadáver na cidade, chegando alguns a me afirmar que há cerca de 40 anos não se tem notícia de uma Exumação.

Pois então é isso, estamos aguardando o IML marcar a data deste trabalho, que embora lamentável, pois foi uma vida humana que se foi, entendemos que deve ser colocado para discussão.

Abraços e bom dia a todos!!!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tribunal de Justiça do Maranhão comemora 200 anos de história

O bicentenário dos 200 anos de instalação do Tribunal de Justiça do Maranhão será comemorado nesta segunda-feira, às 19h, no Centro de Convenções de São Luís, no Multicenter Sebrae. A cerimônia será conduzida pelo presidente do TJMA, desembargador Antonio Guerreiro Júnior, que vai proferir o discurso de abertura aos homenageados e demais convidados.

“A passagem de tão significativa data constitui, a um só tempo, motivo de orgulho pelas conquistas já obtidas, como também de esperança e de superação dos inúmeros desafios que a prática forense, em sua peculiar dinâmica, apresenta a cada dia aos responsáveis pela definição dos rumos do Judiciário maranhense”, afirma o presidente do TJMA, Antonio Guerreiro Júnior.

Durante a cerimônia, cerca de 700 autoridades civis, militares e religiosas, personalidades e servidores do Poder Judiciário serão homenageados com a entrega da medalha comemorativa do bicentenário. “A Medalha 200 anos é única e especial, por ter sido confeccionada, exclusivamente, para as homenagens em torno do aniversário do Tribunal. Ela foi instituída em sessão administrativa do colegiado, como parte das comemorações alusivas à passagem do aniversário de instalação do Tribunal de Justiça, a terceira corte de Justiça estadual mais antiga do país, ocorrida em 4 de novembro de 1813”, explica Guerreiro Júnior.

Estarão expostos ao público durante a solenidade documentos históricos, livros, fotografias, documentários e peças do acervo histórico do Poder Judiciário que enfocam fatos do passado e do presente sobre a atuação do Tribunal de Justiça. O material da mostra também exibe folders, revistas e outras peças publicitárias produzidas sobre a temática dos 200 anos do TJ.

Autoridades importantes do Executivo, do Legislativo estadual e da Justiça serão homenageadas com a medalha, que também será entregue a servidores e pessoas simples da comunidade, destacou o presidente do TJMA.

A programação comemorativa do bicentenário do TJMA teve início em maio de 2012, com a instituição de uma comissão organizadora para planejar e executar as atividades do aniversário, sob a presidência do desembargador Lourival Serejo. Dentre as atividades realizadas nos dois anos de atividade, a comissão lançou concurso público de redação para estudantes, selo e carimbo postais, ciclo de palestras da magistratura nas escolas, documentário e outras peças publicitárias de divulgação e exposição comemorativa.

Mulheres

200 anos depois, o Tribunal de Justiça do Maranhão vive um momento histórico singular onde pela primeira vez, três mulheres ocuparão a Mesa Diretora da Corte Jurídica no Estado. Neste mês foram eleitas as desembargadoras Cleonice Silva Freire, na presidência, Anildes Cruz na vice-presidência e Nelma Sarney como corregedora de Justiça. Na ocasião, a presidente que será empossada dia 20 de dezembro destacou a relevância do fato inédito: “Precisamos passar 200 anos para que a mesa diretora do Tribunal de Justiça fosse ocupada por mulheres. Vou ter a alegria de dividir o cotidiano da Corte com as duas”, destacou Cleonice Freire que acrescentou ainda que “Isso vai fazer parte da história do Tribunal”, declarou a desembargadora que considera que o maior desafio da instituição será corresponder as expectativas de todos

Fonte: O Imparcial On Line