terça-feira, 25 de março de 2014

Bullying Amoroso! Cai fora dessa antes que seja tarde.

Talvez você não saiba, mas pode estar sofrendo bullying amoroso

Texto de Danielle Daian

Cada dia que passa tenho a mais absoluta certeza de que as pessoas tem sérios problemas com a realidade. Ou, melhor dizendo, com a dificuldade de adaptação do que se vende na indústria midiática com aquilo que efetivamente deve ser priorizado na vida real. Diariamente relacionamentos e modelos pessoais perfeitos são vendidos nos mais diversos meios de comunicação como sendo um padrão de beleza e comportamento considerados ideais, fato que tem levado a falência muitas parcerias feitas de carne, osso e vontades. O imaginário do ser humano aliado às cruéis expectativas individuais leva à supervalorização de determinados parâmetros e a inferiorização de outros que, não demora muito, termina no famoso bullying amoroso de uma das partes.

Na maioria das vezes se demora a perceber a imensidão do problema em jogo. A gente arruma desculpas para si, justificativas para o outro, se sobrecarrega de culpas, receios, medos e quando se vê a bagagem emocional está ali, encostada silenciosa no cantinho escuro do quarto calando uma liberdade que pode ser ouvida a quilômetros de distância. Justamente porque o bullying amoroso é talvez um dos comportamentos mais sutis que pode existir entre duas pessoas. Quando se assusta já virou hábito, rotina, aceitação. É a depreciação da opinião do outro muitas vezes publicamente, as contínuas manifestações de insatisfação com o corpo do parceiro (a) que levam a uma consequente diminuição da libido e da atividade sexual, o menosprezo com as crenças, o jeito de falar, de vestir, de viver, de amar.

Não tem nada na vida pior do que ser comparado a um padrão que simplesmente não existe. Querer ter do lado alguém com o corpo de modelo internacional, performance de atriz/ator pornô, a inteligência da Marília Gabriela, que seja além de tudo capaz de parar o trânsito fisicamente e de cuidar de você durante uma crise de rinite, é comprar uma expectativa fictícia e, cá entre nós, bem tediosa. Aquela particularidade que para um não é atraente, para o outro é algo absurdamente encantador. É tudo questão de ponto de vista, ou melhor, de onde e de que forma está vindo o olhar. Amor, parceria e cumplicidade não são algo que se conquista baseado em estereótipos e comédias românticas. Um relacionamento é feito de pessoas inteiras, com qualidades, defeitos, anseios e desejos absolutamente reais. Ou a gente ama o pacote todo que o outro nos oferece, ou procura alguém que preencha melhor nossos “pré-requisitos” em um relacionamento.

A verdade é que não existe força de vontade e amor no mundo que sobreviva a falta de respeito. Tem quem ainda tente passar por cima de tanta agressão emocional e se esforça ao máximo para agradar, corresponder, resgatar uma relação fadada ao fracasso. Mas o fato é que não deveria. A única responsabilidade que se deve amargar é a de deixar outra pessoa ferir o que se tem de mais importante: sua essência. Não existe nada mais doentio do que permanecer em um relacionamento que agride sua autoestima. Até porque a gente não corresponde nem às nossas expectativas, quem dirá às dos outros. Relacionamento foi feito acima de tudo para ser colo, aconchego e paz. Se a alma não se sente mais abraçada, se o aperto no peito for frequente, se em algum momento por menor que seja a gente deixa de se sentir integralmente desejável aos olhos de quem caminha lado a lado com nossas certezas, é infinitamente melhor continuar a travessia sozinho (a).

Amor é acima de tudo uma escolha. Assim como a permanência. Entra na nossa travessia quem faz por merecer. Sai quem ultrapassa os limites entre quem eu sou e quem você espera que eu seja. A vida, os relacionamentos, os romances, cada qual com suas peculiaridades, são únicos justamente por serem vividos por pessoas reais. Nada é tão reconfortante quanto estar ao lado de alguém que está com a gente simplesmente pela gente. Eu chamo isso de respeito e é o mínimo necessário em qualquer parceria. Caso contrário, este túnel tem duas saídas bem conhecidas: ou soma, ou sumo.

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