domingo, 22 de junho de 2014

Grupo de palhaços leva espetáculo a vilarejos sem luz no Brasil

O circo Teatro Artetude saiu de Brasília em 2003. Em dez anos de andanças, o espanto é sempre o mesmo.



Nossos repórteres embarcaram numa bonita aventura pelos confins do Brasil. Um grupo de voluntários leva alegria às crianças de lugarejos que não têm luz nem telefone. O que quer essa trupe que não se leva a sério?

“Nossa missão como artista é mudar o mundo”, destaca o palhaço Pablo Ravi.

E quem são os combatentes dessa revolução do riso?

“No fundo, cada um de nós está buscando o seu lugar no mundo, como se o mundo fosse um grande circo e cada um de nós precisasse saber onde pode contribuir no espetáculo”, conta o palhaço Ankomárcio Saúde.

Cinco palhaços rodando o interiorzão do Brasil.

“Passamos por pontes, estradas de terra, chão, barro, mas o espetáculo, ele não vai parar”, afirma o palhaço Ruiberdan Saúde.

“Ponta a ponta, redor ao redor, do pequeno ao maior, a gente já andou por todas as regiões do nosso país”, completa Ankomárcio.

O Circo Teatro Artetude saiu de Brasília em 2003. Em dez anos de andanças, o espanto é sempre o mesmo.

“É quase um disco voador. Dependendo da comunidade, da simplicidade, quando nós chegamos, muitos se perguntam: 'será que esses caras vieram de onde?'”, brinca Ankomárcio.

Aonde o teatro não chega, aonde o cinema não chega, aonde os shows musicais não chegam, o palhaço chega e faz isso tudo ao mesmo tempo! Essa proeza é recebida com as honras da gratidão. Os integrantes da trupe serão sempre heróis nos lugarejos remotos onde o circo mambembe se instala.

“Vai em qualquer lugar. Não precisa ter asfalto, não precisa ter luz, não precisa ter nada. Só precisa ter um espaço pra levantar ali nosso picadeiro”, destaca Pablo.

Na comunidade Kalunga do Engenho, povo quilombola de Cavalcante, interior de Goiás, a 320 quilômetros de Brasília, ninguém conhecia música parecida. Que dirá então, a geringonça que produz essa música!

“Um ônibus colorido como esse que solta música é uma miragem nesse deserto de impossibilidades culturais que as pessoas vivem”, diz Ankomárcio.

E atrás dessa miragem só não vai quem já não tem criança dentro de si.

“E a gente vira o Circo de Soleil do negócio. Aonde a gente chega, a gente vai carregando o povo. O povo gosta demais de participar, de rir, de brincar. E a gente continua tocando e brincando, deixa o som ligado, e acaba virando uma festa o negócio”, brinca Pablo.

Festa de criança. Nos dois lados do picadeiro.

“É uma criança encontrando a outra. Na verdade, o palhaço se identifica com aquela pureza”, diz o palhaço Marco Aurélio Feresin Júnior.

Piadas mais velhas que o circo alcançam o sucesso de sempre, fazendo a infância voltar em qualquer idade.

“Até os adultos, né? Tinha adultos até mais crianças que eles, né”, destaca o palhaço Julio César Macedo.

Ninguém mais é adulto ou criança. O público tem a idade do encantamento e o som das gargalhadas.

“É como se fosse o nosso alimento ali do que a gente vai apresentando. São as risadas que a gente vê. A gente doando a nossa energia ali para aquele momento, para aquelas cenas e o riso das pessoas vindo de volta, assim, preenchendo a gente com mais energia”, diz Pablo.

E qual seria a explicação para esse fascínio?

“Quando uma criança vê um palhaço, eu imagino que ela se vê”, conta Ankomárcio.

Ou quem sabe veja, no picadeiro, a representação dos desafios da vida.

“Se você errar, tem que improvisar, tem que reconhecer que errou, tem que brincar com o erro e tem que pedir uma segunda chance”, conta Marco Aurélio.

Improvisação e rapidez de pensamento até quando o celular do repórter atrapalha a entrevista.

O fundo musical de uma aspiração, o sonho que muitos tivemos um dia de sair por aí e descobrir o mundo.

“Todas as pessoas querem fazer isso. Querem fugir com o circo, querem sonhar, se lançar no trapézio, voar, se equilibrar na corda bamba, caminhar entre o certo e o errado. Todas as pessoas em algum momento fazem isso”, diz Ankomárcio.

E mesmo aos que nunca quiseram sair, o palhaço convida a pensar. Ao ocupar a rua, ele mostra para a cidade o que a cidade às vezes esquece.

“Quando vamos à praça e convidamos as pessoas para irem à praça, a gente convida elas para elas se verem, se reconhecerem, perceberem o que da praça pode ser melhorado ou piorado, perceberem que a rua, a cidade é delas”, conta Ankomárcio.

E quando conquista as crianças da cidade, as famílias da cidade, o palhaço se emociona com a chave do futuro.

“Se algum dia eu tivesse condição, eu ia criar um salário para as mães. Toda mãe que criasse seu filho, que chegasse com 18 anos e fosse um sujeito digno, ela ia ganhar um prêmio. Porque ela ia ter economizado muito o dinheiro do estado”, disse Ankomárcio.

O maior espetáculo da terra não custou um tostão. O circo mambembe na comunidade do Engenho se apresentou de graça, sem passar o chapéu. Em povoado pobre, recompensa de palhaço é aplauso de menino, abraço de criança.
 
Nota deste Blog: O Circo Teatro Artetude esteve em São Luís em Abril deste ano para a Semana de Teatro do Maranhão, e sua apresentação foi também destacada aqui neste Blog, você pode rever a matéria clicando aqui.
 





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